Que coisa mais descabida um presidente que não cuida das pessoas que morrem por causa de uma "gripezinha", não cria empregos por falta de iniciativa, não consegue dialogar com os diferentes e muito menos acabar com a fome de milhões de brasileiros, agora quer transformar alguns lugares bucólicos do Brasil em "Cancúns". Uma aberração dessas não pode prosperar.
Sem a menor noção das nossas reais prioridades, Bolsonaro quer vender faixas de areia e áreas em ilhas para incentivar a implantação de resorts. O que pode estar por trás de mais uma ameaça ao meio ambiente, boa coisa não é. O presidente não é dono de áreas públicas, das nossas praias e ilhas. Florianópolis já enfrentou prefeitos e vereadores que se achavam no direito de vender o que é público. (*)
Segundo a justificativa do governo seria uma forma de estimular o investimento de grupos hoteleiros e atrair cruzeiros internacionais para cá. Ao que parece o presidente e sua equipe desconhecem que o setor do turismo foi um dos mais afetados pela pandemia no mundo. Destinos turísticos consolidados fecharam as portas. Navios de cruzeiro que navegavam ao redor do mundo foram desmanchados. (**)
Florianópolis, um dos principais destinos turísticos do Brasil sentiu o efeito da crise na própria carne. O setor está longe de se recuperar. Só que a recuperação do setor que todos esperam, não será através da alienação de faixas de areia, áreas de ilhas para o setor privado instalar seus imensos resorts. É um outro público que nos visita; quer liberdade de escolha e distância de lugares exclusivos.
Não sou contra o turismo, muito pelo contrário. Já fiz parte da Comissão do Turismo na Câmara (2003/2007) e conheço as dificuldades do setor. A minha compreensão coincide com a de Elimar Nascimento, do Laboratório de Estudos de Turismo Sustentável da Universidade de Brasília. Sua principal ressalva a iniciativa do presidente de criar "Cancúns" é de que não são esses projetos que o turista busca. Resorts internacionais, são todos iguais, artificiais, sem contato com a gente e a cultura local. A tendência agora é outra, são pessoas cada vez mais identificadas com a natureza. (***)
O debate pela Florianópolis que queremos precisa estar na rua. A cidade está acostumada com a luta pela preservação de áreas públicas. Os exemplos estão diante dos nossos olhos, acolhidos e apropriados pela cidadania: Parque de Coqueiros, Parque da Luz, Parque do Córrego Grande, Parque Linear, Parque Cultural da Antigo Campo de Aviação do Campeche, Parque do Rio Vermelho, Praia do Moçambique, Praia do Saquinho, Praia do Forte, Praia do Sonho, Lagoa do Peri, Lagoa da Conceição, Lagoa Pequena, Costa da Lagoa, Canto da Lagoa, Farol dos Naufragados e assim segue...
A Ponta do Coral, com trinta anos de enfrentamento, é um símbolo da resistência urbana. Não vamos nos calar diante de negócios obscuros em áreas públicas e de preservação permanente na nossa cidade. Quanto antes a sociedade se mobilizar, melhor. A resistência organizada começa com o comprometimento das pessoas com a causa. Está na hora de socializar as preocupações nas redes sociais para enfrentarmos o que vem por aí.
(*) No último dia 12, com a ausência de mais de 100 deputados, a Câmara aprovou um projeto que flexibiliza regras de licenciamento ambiental. Não parece coincidência. Está mais para a boiada do Salles passando....
(**) Rio de Janeiro, principal destino turístico do Brasil - 90 hotéis fecharam suas portas. Mais de trinta transatlânticos que estavam em operação no mundo viraram sucata.
(***) Na década de 70, resorts estavam na moda. A principal referência era a Costa do Sauipe, na Bahia. Muitos fecharam, não aguentaram o alto custo associado a esse tipo de investimento.
Aqui não é Cancún!
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